segunda-feira, 13 de março de 2017

O Agente de Viagens no Mercado Digital


O AGENTE DE VIAGENS AINDA TEM LUGAR NO MERCADO.

Álvaro Ornelas [1]


RESUMO
Nossa civilização está em fase de transição entre a economia baseada na produção e serviços e
a economia de experiências. Devido a este fato o valor de um pacote turístico hoje esta atrelado a fatores muito mais importantes que prover bons serviços e produtos. O viajante atual, considerado “cidadão do mundo”, está mais interessado em experiências. Exigindo da cadeia de viagens mais criatividade e diversidade de roteiros no mercado. Com este cenário o simples fato de comprar o pacote de experiências se tornou muito importante para o cliente (turista). Ele necessita ter acesso a informações mais detalhadas de roteiros. Acesso imediato a todas as informações, principalmente aquelas relacionadas ao objetivo principal da proposta. Com este novo panorama mercadológico o papel do agente de viagens mais uma vez será vital para o auxilio na escolha de destinos turísticos, porém a postura e treinamento terá que demonstrar alto grau de conhecimento técnico, operacionalidade e informação subjetiva. Para tal é necessário a ampla utilização da tecnologia disponível no dia-a-dia e um alto nível de percepção desta época/fase de transição. Neste artigo procuramos demonstrar nossa preocupação com a falta de treinamento por parte dos agentes de viagens e das operadoras de turismo no mercado brasileiro atualmente e procuramos alertar para esta nova tendência de mercado. O Brasil não pode correr o risco de mais uma vez ficar para trás na área de prestação de serviços. Podemos colocar o país em evidência nesta nova tendência da economia que surge.  

Palavras-Chaves: transição, economia da experiência, treinamento, tecnologia, agente de viagens.

Introdução.
Nas últimas quatro décadas vimos a maneira de viver e conviver no mundo mudar de maneira tão rápida que muitos países não tiveram tempo perceber as mudanças e nem mesmo de se adaptar-se  a ela. Na década de 90 foi uma década marcante para a economia mundial e por conseqüência no turismo e o que ele representa para a nova sociedade do século XXI. Mais que uma economia ele representa uma forma de conquista. Representa a forma de expressão de idéias e ideais de indivíduos. Mas para que o Brasil possa usufruir dos benefícios que o turismo pode prover. Tem que estar preparado e consciente de todos os aspectos de nosso tempo. Por exemplo, consciente que a economia de manufatura de produtos foi a locomotiva das décadas de 50 e 60. Que serviços foi a locomotiva econômica nas décadas de 70. Que novas idéias e criatividade foi a locomotiva da década de 80. E que a globalização com auxilio da tecnologia foi o grande sucesso e legado da década de 90 para o Século XXI. Em 40 anos nossa civilização mudou e evoluímos (DEMASSI: 1997) como nunca aconteceu antes. No século XXI vê-se que outro elemento vem ganhando força como locomotiva de crescimento - a experiência - vem sendo a locomotiva de várias empresas e países que perceberam primeiro esta nova mudança em nossa civilização (Joseph Pine III, 1998) . A era da experiência já iniciou. E os prestadores de serviço no Brasil já sabem disto? E as empresas envolvidas com a cadeia de viagem que atuam no mercado brasileiro já sabem disto?  

 Características do produto turístico.  
Com base na economia de experiência o perfil do produto turístico muda e por conseqüência o comportamento profissional do agente de viagem tem que acompanhar esta nova fase do turismo inserido em desejos de experiência por parte do cliente.
Já foram tratados por diversos autores as características básicas do produto turístico. Porém vem se notando que o termo pacotes de turismo vem sendo moldados de forma mais individual e com uma proposta a mais – experiência.
Os aspectos básicos dos pacotes turísticos tradicionais ganham uma proporção de mais destaque quando se projeta um “consumo” de pacote turístico com base em experiências (Bogdanovych, A. et AL, 2004) – Pacotes de Viagem de Experiência:  
O produto turístico é imaterial (BENI  2003), ou seja, intangível. Nem um dos componentes que formam o produto turístico por ser tocado ou visto;
 O vendedor e o comprador de um pacote turístico mantém seu vínculo com base no potencial individual de expressão/comunicação e de interpretação (Ornelas, 2008);
As informações corretas e precisas são premissas básicas na prestação de qualquer serviço e ganha força no pacote de viagem de experiência;
A capacidade de empatia por parte de agente de viagem deve ser muito alta quando se trata de atendimento ou elaboração de um roteiro de experiência / proposta de aventura.  (Ornelas,2008);
A informação correta e coerente aliada ao preço e ao atendimento recebido (interpretação de suas expectativas) traduz a maneira que o turismo está se organizado em mercados maiores.
O saldo final de uma prestação de serviço que envolve a venda e a compra de produtos intangíveis é a satisfação do cliente (BENI  2003) pelo simples fato de ter seu desejo realizado.
Como se trata de desejos pessoais e que refletem a personalidade de cada um o agente de viagem deve procurar entender esta nova perspectiva do seu cliente. Que demanda inúmeras informações que devem estar disponível em fácil acesso e forma objetivas (Bogdanovych, A. et AL 2004).

Para manter o potencial competitivo e qualidade em viagem de experiências o agente de viagem deve observar:

Ø  É muito pouco provável que um agente de viagem que não conheça o destino consiga passar detalhes da viagem de experiência que sejam relevantes ao cliente/turista (Jackson, 1997);
Ø   A qualidade das informações são percebidas pelos cliente/turista como verdadeiras ou falsas dentro de suas pesquisas individuais;
Ø  O cliente/turista que procura informações utiliza em larga escala informações em “chat” de resenhas e opiniões, conversa com pessoas que já visitaram o destino e procuram uma série de guias e livros sobre o local objeto de seu desejo;
Ø  A descrição do destino ou produto é sempre subjetiva (na visão de alguém) e sempre está relacionada com a experiência  (Gee et. al, 1997).
Ø  Em  poucas áreas da economia se faz tanta co-relação entre diferentes produtos e serviços como na economia de prestação de serviços (Edgell 1990, p.7).

Além dos aspectos acima deve-se entender qual a real motivação de viagem que o turista tem. Na era da economia da experiência as novidades de mercado devem ser correspondidas as imagens mentais criadas pelos indivíduos (PINE II 1998), ou seja, a imagem que o destino vende a cada individuo é interpretada de maneira singular.  Com isto em mente o agente de viagem deve ter consciência que cada pacote de viagem deve ser comercializado de maneira exclusiva. O grande paradoxo da prestação de serviço de serviço está no atendimento exclusivo de massas. Como pode isto ser colocado em prática?

As Conseqüências Para Os Agentes de Viagem.

Sabendo que a motivação de uma viagem pode ser o simples fato de ter uma foto tirada com uma paisagem determinada. Cabe aos agentes orientar onde e como se faz para tirar a mesma foto. Claro que outros elementos estão em questão neste exemplo, como o local de destino está organizado para receber e fornecer a mesma foto ao cidadão viajante. Este exemplo simplório por muitas vezes é ignorado como uma estratégia de marketing porém é assimilada como tal por um percentual de pessoas ávidas por  novidades. Mas outros elementos atraem a atenção do turista e inclui: aparência física de uma população, gastronomia local, geografia de uma região, clima. Imagem pessoal criada que poder sentir a experiência de estar em um lugar com as características desejáveis.

Após a escolha do destino o individuo vai procurar informações “on-line”. O acesso a diversas informações de forma rápida através da internet e a interação entre indivíduos através da tecnologia é a característica mais marcante neste inicio de século. E assim formam uma poderosa ferramenta de investigação -  precisa e eficaz.

Este fato coloca o agente de viagem como um simples realizador de tarefas e não mais o detentor das informações vitais para a exploração do destino. Nota-se nos agentes de viagem do Brasil uma postura antiga. Ao prestar um atendimento mecânico com base em treinamentos aquém da real necessidade do mercado. Para o novo perfil de turista , com base na experiência, se faz necessário um amplo conhecimento dos destinos comercializados e não só treinamento como ter passado a experiência ora em venda. O agente de viagem vai ter que investir em viagens para poder saber e entender as expectativas do cliente com novo perfil.

A internet com todos seus acessos on-line não está conseguindo transpor a necessidade de informações e a segurança desejada. O agente de viagem tem neste novo nicho a possibilidade de voltar a ser a fonte de informações mais confiável porém tem que se readaptar ao novo perfil.


Processos de Mudanças.

O agente de viagem vem sofrendo mudanças drásticas do mercado. Mas muitoas ainda não perceberam a real tendência, E ainda persistem em ter atitudes comerciais ultrapassadas ou colocar-se como vitimas de situação mercadológica. As mudanças nos últimos 20 anos do mercado Brasileiro tiveram impacto direto no perfil do agente de viagens. Na década em 80 e 90 vivia-se uma fase de “abertura global” era o incício da globalização. Hoje a globalização já esta consolidada e passa por outra etapa e manutenção da individualidade em um mundo globalizado. E este etapa tem impacto direto no ser humano, ou seja, o cliente, o turista. O resultado é a mudança de perfil. O mesmo destino pode ser visitados muitas vezes porém com propósitos distintos, ou seja, com pacotes diferenciados por segmentos mercadológicos.

As grandes empresas vêm sinalizando o mercado que o público consumidor de pacotes turísticos mudou. A viagem de excursão já não atrai todos os turistas. Principalmente aqueles que viajam mais. A sensação de ter tudo certo e organizado não atrai o  novo aventureiro.

O grande desafio da prestação de serviço é de entender que no mesma comunidade existem pessoas que convergem em pensamento e modo de vida. Entender que a segmentação de mercado é a saída básica para a sobrevivência da agencia. Mas como ser bom vendedor e tornar-se refencia de confiança de o mercado está fragmentado.

O agente não necessita ser bom em tudo. Será mais comum visualizar empresas especializadas em pacotes e produtos específicos em nichos muito específicos.

-          BIBLIOGRAFIA:


Pine, B.J. II & Gilmore, J. Welcome to the experience economy.  Harvard Business, Review:1998. 97–105.

Bogdanovych, A. Berger, H. Simoff, S. and Sierra, C (2004) E-Commerce Environments as 3D Electronic Institutions. Proceedings of EC2004 conference, Lisbon, Portugal: 237-242.

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[1] Especialista em Administração Global pela Universidade Independente de Lisboa (2001); Professor titular do Curso de Turismo e de Hotelaria da ASSESC e consultor em projetos de infra-estrutura turística.