segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Smart Sea >> A força da economia do mar em Santa Catarina.

O segredo de Santa Catarina para liderar a construção de barcos de lazer



Projeto do Parque Urbano e Marina Beira-mar, em Florianópolis (SC), aguarda licença para iniciar a construção.| Foto: Divulgação/Prefeitura de Florianópolis. 


É no litoral que Santa Catarina encontrou uma nova força econômica: a construção de barcos de lazer. O estado se consolidou como líder no setor, responsável por 80% da produção de todo o país. Uma atividade que engloba uma cadeia de serviços, como cursos de qualificação de mão de obra, empresas de inox, produção de volantes, cabos e até estofados para fabricar iates, jet skis e lanchas, muitos deles de luxo.

"É um polo de serviço completo, no qual se encontram todas as peças e insumos para construir e manter as embarcações”, resume o o consultor do setor náutico, Álvaro Ornelas, que atua no setor desde 2008. 

Em Santa Catarina, o setor mobiliza cerca de 3,5 mil empregos diretos. O número representa metade do total de vagas em todo o país (7 mil). Há ainda os trabalhos indiretos: são 35 mil vagas no Brasil, no entanto não há dados regionalizados. “É um efeito dominó positivo, é um setor que entrega muito, porque é artesanal, então temos colaboradores em todas as fases [de construção]”, explica o presidente da Associação Brasileira de Construtores de Barcos e seus Implementos (Acobar), Eduardo Colunna.

Entre janeiro e agosto de 2023, empresas de construção de barcos de lazer geraram quase R$ 14 milhões de arrecadação em impostos para o governo de Santa Catarina, superando em 40% a arrecadação de todo o ano passado, quando a cifra chegou a quase R$ 10 milhões. 

Os dados foram consultados no Portal da Transparência de SC, que mostram, ainda, maior arrecadação do setor neste ano em comparação a outras áreas da indústria de transformação, como construção de edifícios (R$ 5,1 milhões); confecção, sob medida, de peças do vestuário, exceto roupas íntimas (R$ 8,5 milhões); e fabricação de vinho (R$ 4,8 milhões).

A liderança do estado no mercado nacional repercute nas exportações. Santa Catarina é o estado que mais vende barcos de lazer para o exterior. Nos seis primeiros meses do ano foram exportados 33 milhões de dólares, principalmente para Estados Unidos e Itália, segundo o Observatório da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc).

Incentivos fiscais contribuíram para o destaque de SC no setor de barcos de lazer

Santa Catarina começou a se destacar na construção de barcos em 2009. Especialistas da área apontam o programa Pró-Náutica, lançado em julho daquele ano, baseado na Lei de 1996, como o principal “segredo” do estado para o sucesso no setor. 

O governo de Santa Catarina reduziu a alíquota do ICMS de 12% para 3,5% para a indústria e prorrogou prazos para recolhimento do imposto sobre compra de matéria-prima, máquinas e peças. Ainda reduziu de 25% para 12% a alíquota das embarcações, equiparando com a dos veículos. 

Com isso, Santa Catarina conseguiu manter a competitividade em relação a outros estados, como São Paulo e Rio de Janeiro, e, ainda, se destacar: desde 2018, alcançou a liderança no setor, como aponta Colunna.

“Esse sistema de benefícios fiscais propiciou segurança jurídica ao setor. Hoje é uma lei com tratamento diferenciado para construir embarcações, e ICMS diferenciado na venda da embarcação. E isso foi um trabalho muito bom”, afirma. O presidente da Acobar também explica que a ideia dos benefícios nasceu no Rio de Janeiro e em São Paulo e foi levada para Santa Catarina, “que fez melhor do que os outros”, segundo ele, “propiciando a criação de um polo naval” no estado do Sul. 

“As empresas que estavam lá [em SC] se fortaleceram, e as novas que vieram, como as italianas e americanas, escolheram Santa Catarina”, acrescentou.

Foi por causa do Pró-Náutica, por exemplo, que a Sessa Marine, da Itália, escolheu o estado para implantar a primeira linha de produção de barcos internacional e transferência de tecnologia. 

A parceria começou em 2011 com o estaleiro catarinense Intech Boating, em Palhoça, na Grande Florianópolis, produzindo barcos da marca europeia.

“Em todas as oportunidades em que nós buscamos melhores condições para a indústria, Santa Catarina sempre foi imbatível tanto nas relações com o governo estadual, quanto nos programas de incentivo à indústria, além de logística portuária e, como um todo, a grande qualidade de mão de obra”, explica o presidente do Grupo Sessa Marine, José Antônio Galizio Neto.  Para ele, o programa de redução do ICMS “ajuda muito na construção da operação, facilita a construção da operação e importação de matérias primas e melhora custo de caixa”.

O negócio entre as empresas italiana e brasileira se intensificou e, em maio deste ano, uma operação inédita selou a aquisição, pela Intech, da marca global Sessa Marine. Com o avanço da parceria, um novo parque fabril será inaugurado ainda em outubro, em Palhoça, agregando uma planta italiana à já existente. 

A expectativa é de duplicar a produção total do estaleiro, chegando a 120 unidades por ano. Segundo Neto, essa nova planta recebeu investimento de R$ 25 milhões: R$ 14 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o restante capital próprio.

De acordo com a empresa, cerca de 30 vagas de emprego devem ser abertas até dezembro para atuar na nova planta, a maioria para o setor de produção. Hoje, o grupo tem 250 colaboradores.

Apesar do crescimento no setor de construção de barcos de lazer, o estado carece de infraestrutura, como marinas e trapiches, para que as embarcações construídas possam ficar em Santa Catarina.

O Turismo Náutico pode ser acelerado, se tirarmos do papel projetos de Marina Catarina. A criação do Conceito MAR CATARINA, criado como estrategia comercial para promover o desenvolvimento de todo o litoral catarnense além de alternativa para resolve ros projetos históricas de enchente e navageção. “Todas as emrbacaçoes mais ¨nobres¨, aquelas que demandam de mão de obra o ano intieiro e manutenção anual mais quafilicadas, acabam indo parar no litoral de SP e em Brasilia, um reelvente Pólo de Lazer Náutico.", ressalta o consultor Ornelas, que explica que, com isso, o estado deixa de gerar mais empregos e renda, porque cada vaga molhada gerae 4 empregos diretos, conforme a Pesquisa da Universidade do Algarve, onde ele participou de ações náutica ampliando o mercado. 

Além disso, cada R$ 1 investido em marinas implica em incremento de outros R$ 2 ou R$ 3 na economia da região. Segundo dados do Fórum Oceanos, português. 

Para Ornelas, a implementação de uma marina pode gerar, ainda, valorização imobiliária do entorno, aumento da qualidade de vida, combate às mudanças climárticas e segurança para a conservação dos oceanos e orlas do Brasil. Para os governos, novos impostos, para as pessoas, mais novos postos de empregos, em especial, para as comunidade "que desde sempre" são nauticas - as comunidades de pescacores. Com o pensamento sistemico organizado, e com uma proposta adequada, a mão de obra da pesca pode (e deve) ser qualigicada para atender todas as cadeiras da economia do mar. E SC é o Estado que, desde 2013, tem uma macroestrategica - a economia do mar por meio do SMART SEA. 

Por isso, Ornelas, enquando coordenador do GT NAUTICO SC, deu inicio às estrategias iniciais juntoa a Secretária Zena Becker, hoje Presidente do FloripaAmanhã, para o inciio do Parque Urbano e Marina Beira-mar, em Florianópolis. O processo aguarda a licença para iniciar a construção, o que deve acontecer em novembro, segundo ele, com início dos trabalhos em juho de 2024, uma espera de 34 anos. 

Depois, a empresa Jota Ele Marine Spe S/A terá dois anos para finalizar a obra. “É uma marina que vai mudar a cidade de Floripa, porque é um complexo, um parque náutico”, resume Ornleas. A área contará com um parque urbano público de convivência, com espaço para a realização de eventos, estacionamento de veículos, quiosques, área de lazer e espaço para práticas esportivas que envolvam o mar. Além disso, uma parte da marina será designada a uma futura instalação, do tão esperado,  transporte náutico da região metropolitana. 


Detalhes da marina de Florianópolis

Será localizada na Avenida Rubens de Arruda Ramos – Beira Mar Norte, bairro Centro, em Florianópolis.

Projeto inicia onde hoje encontra-se a Praça de Portugal, estendendo-se até a Praça do Sesquicentenário.

Em direção ao mar, adentra por cerca de 315 metros, com profundidades médias variando de 1,5 a 4 metros.

Parque Urbano de 123 mil metros quadrados.

Marina pública para 60 embarcações.

Marina privada para cerca de 624 embarcações.

Santa Catarina conta com cerca de 130 estruturas de apoio náutico no litoral e no interior, entre marinas e garagens náuticas (que são a maioria). A cada 300 embarcações em uma estrutura de apoio náutico são movimentados milhões por ano, todos de forma informal, pois há probmeas na definição de CNAEs, pos exemplo. 


Raio X do setor náutico de esporte e lazer em SC

Empregos diretos: 3,5 mil

Empregos indiretos: não há esse dado

Regiões que se destacam: Itajaí, Vale do Itajaí, Palhoça e Biguaçu, na Grande Florianópolis

Geração de impostos R$ 14 milhões entre janeiro e agosto de 2023

Exportação barcos: US$ 33 milhões entre janeiro e junho de 2023 

Projeção de Crescimento em 2023: estabilidade

*Dados prévios de 2023 da Acobar

Raio X do setor náutico de esporte e lazer no Brasil

Empregos diretos: 7 mil

Empregos indiretos: 35 mil

Faturamento: R$ 2,5 bilhões 

Geração de impostos R$ 900 milhões 

Quantidade barcos: 4,1 mil barcos por ano

Exportação barcos: US$ 150 milhões 

Projeção de Crescimento em 2023: estabilidade

*Dados de 2022 da Acobar


FONTE: 

Raphaela Suzin, especial para a Gazeta do Povo, 21/10/2023. 


SMART SEA: ODS 14 - Vida na Água.

 Vida na água: conservação e uso responsável dos mares, oceanos e ambientes costeiros.


Os oceanos cobrem três quartos da superfície do planeta, conectam as populações por meio dos portos e mercados, constituindo-se em importante herança natural e cultural para a humanidade. Os  ambientes marinhos realizam importantes serviços ambientais: fornecem aproximadamente metade do oxigênio que respiramos, absorvem mais de um quarto do dióxido de carbono (CO2 ) que produzimos, desempenham importante papel no ciclo da água e no sistema climático, além de serem uma fonte essencial de biodiversidade. 

Tudo isso contribui para a sustentabilidade dos ecossistemas, marinhos e continentais, assim como para o desenvolvimento econômico, para a erradicação da pobreza, segurança alimentar, transporte e tráfego marítimo, para a geração de trabalho digno e meios de sobrevivência (Nações Unidas, 2017). 

Apesar dos inúmeros benefícios que a vida na água nos traz, os efeitos adversos das alterações globais agravados pela ação humana podem ser vistos na elevação da temperatura dos oceanos, acidificação de mares e zonas costeiras, desoxigenação de ambientes marinhos, elevação do nível dos mares, desgelo das calotas polares, erosão das zonas costeiras, assoreamento da foz de rios, ventos extremos, poluição, exploração desordenada de recursos petrolíferos, redução dos estoques pesqueiros, alterações na fisiologia e metabolismo de espécies aquáticas em decorrência da bioacumulação de substâncias nocivas no ambiente, sobrepesca, pesca ilegal, conflitos, dentre muitos. No sentido de constituir um fórum para discussões e alinhar decisões a respeito da sustentabilidade dos oceanos, foi firmada, em 1982, em Montego Bay na Jamaica, 12 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 14 a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (Unclos), que normatizou inúmeras ações, como o trânsito marítimo, a delimitação de fronteiras, os regulamentos ambientais, a investigação científica, o comércio e a resolução de conflitos internacionais. O Brasil ratificou sua participação na Unclos em 22 de dezembro de 1988 (Nações Unidas, 2017). 

Em 2012, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (RIO+20) considerou os oceanos e as águas costeiras fundamentais para a sobrevivência do planeta, ressaltando a importância da sua conservação e utilização responsável, inclusive para erradicação da pobreza, segurança alimentar e garantia de trabalho digno, protegendo, ao mesmo tempo, a biodiversidade, o ambiente marinho e as populações e os países que dependem dos recursos pesqueiros marinhos, e propondo a minimização e remediação dos impactos das mudanças climáticas nesses ecossistemas (Beirão; Pereira, 2014). Diante desse cenário preocupante, em setembro de 2015, 193 estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) reuniram-se para discutir uma nova agenda global comprometida com as pessoas, o planeta e a paz. 

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável apresenta 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) que englobam 169 metas traçadas para fomentar um mundo melhor (Machado Filho, 2017). 

Dentre esses objetivos, a síntese do ODS 14, intitulada Vida na água, foi criada para promover, em linhas gerais, a conservação e o uso sustentável dos oceanos, mares, dos demais recursos pesqueiros e das zonas costeiras. 

ODS 14 e a sua relação com o mundo O movimento dos oceanos, por meio das correntes marítimas, distribui os nutrientes e o calor para as áreas costeiras (Figura 1), sendo a energia que movimenta a vida no planeta, o motor que regula diversos processos naturais que geram nosso alimento, renovam a água e o ar que respiramos. Ao longo da história e até os dias de hoje, os oceanos e os mares são considerados vitais para o comércio, o transporte, a geração de energia, riquezas e alimentação (Nações Unidas, 2016). Os oceanos contêm 97% da água do planeta e representam três quartos da superfície da Terra. Não é por acaso que mais de 3 bilhões de pessoas dependem dos mares e oceanos para sua subsistência, gerando cerca de 5% do produto interno bruto (PIB) global ou aproximadamente 3 trilhões de dólares por ano em decorrência do uso, comércio e outras atividades correlatas aos recursos e às indústrias marinhas. No entanto, o valor potencial desses recursos nunca poderá ser estimado, já que existem milhões de espécies marinhas não identificadas e apenas 200 mil conhecidas (Nações Unidas, 2017). 



Espécies de algas marinhas, dentre as muitas funções biológicas que realizam, absorvem o dióxido de carbono atmosférico, produzido pelas emissões de gases de efeito estufa, e que têm causadoacidificação dos mares e oceanos, além da elevação da temperatura global, como principais efeitos adversos. Essas mesmas espécies que ajudam na regulação do clima do planeta, participam da cadeia trófica que alimenta bilhões de pessoas que dependem única e exclusivamente dos oceanos. 

Indiretamente, a pesca marinha emprega 200  milhões de pessoas no mundo. A mesma pesca que emprega e fornece alimento às populações mundiais, quando praticada de maneira irresponsável, contribui para o esgotamento de muitas espécies de peixes, além de dificultarem uma gestão organizada e sustentável da pesca global, levando a perdas sociais, ambientais e econômicas imensuráveis. Por isso, estima-se que até 40% dos oceanos estejam afetados pelas atividades humanas, tais como a poluição, o empobrecimento da pesca e a perda de habitat costeiros (Nações Unidas, 2017). 

O problema com a sustentabilidade dos oceanos é tão sério que, em 2017, um artigo publicado na revista científica BioScience, assinado por 15 mil cientistas de 184 países e intitulado Segundo Aviso (A Second Notice), descreve que as previsões feitas em 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e 14 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 14 o Desenvolvimento, também conhecida como Eco 92, foram superadas em razão do elevado crescimento da população mundial (35% de aumento), com consequente aumento nas emissões de dióxido de carbono pelo uso de combustíveis fósseis, agricultura de alto impacto, desmatamento, seca, perda de vida marinha e aumento das chamadas zonas mortas nos oceanos (Ripple et al., 2017). 

A gestão cuidadosa desse recurso é fundamental para o desenvolvimento sustentável. Além disso, os recursos costeiros e marinhos são extremamente vulneráveis aos impactos da degradação ambiental, da poluição, da sobrepesca e da mudança global do clima. Nesse sentido, destacam-se, a seguir, alguns conceitos importantes associados a tais impactos, que também são particularmente relevantes para o Brasil, e que resultaram na elaboração das 11 metas de desenvolvimento sustentável propostas na Agenda 2030 (Brasil, 2017). 

As metas propostas incluem evitar e reduzir significativamente, até 2025, a poluição marinha de todos os tipos, em particular as oriundas de atividades terrestres, que provocam a dispersão de detritos e poluição por nutrientes, com ações ligadas principalmente à disposição, à gestão e ao tratamento de resíduos sólidos, como esgotos e efluentes. As metas incluem também gerenciar e proteger de forma sustentável os ecossistemas marinhos e costeiros, fortalecendo sua resiliência e agindo na sua restauração, a fim de alcançar oceanos saudáveis e produtivos, por meio da conservação de zonas costeiras, consideradas os berçários da vida marinha. 

Nessa mesma linha de atuação, até 2030, conservar pelo menos 10% das áreas costeiras e marinhas, de acordo com o direito nacional e internacional e com base nas melhores informações científicas disponíveis é também uma meta (Nações Unidas, 2017). Para controle e monitoramento das mudanças climáticas nesses ambientes, uma das metas é minimizar e abordar os impactos da acidificação dos oceanos pela cooperação científica aprimorada em todos os níveis. Nesse aspecto, os editais europeus no âmbito do programa Horizonte 2020 (programa de financiamento europeu para pesquisa e inovação) já estão estabelecendo redes interinstitucionais e multidisciplinares com o mesmo foco de investigação para aprofundar conhecimentos, elencar prioridades e planejar ações de convivência e redução dos efeitos das mudanças climáticas nos ecossistemas marinhos. A relação ambiente, pessoas e pesca, em todas as suas vertentes, está contemplada em metas específicas. 

Algumas delas, até 2020, são: regular a coleta e acabar com a sobrepesca, pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, assim como extinguir as práticas de pesca destrutivas, implementar planos de manejo baseados na ciência, a fim de restaurar os estoques de peixes no menor tempo possível, pelo menos em Vida na água 15 níveis que possam produzir um desenvolvimento sustentável da pesca para as espécies exploradas, além de fornecer acesso para pescadores artesanais em pequena escala aos recursos e mercados. Também pretendem proibir certas formas de subsídios à pesca que contribuam para o excesso de capacidade, sobrepesca, pesca ilegal, não declarada e não regulamentada, sendo que a negociação dos subsídios para pesca deve ser tratada dentro da Organização Mundial do Comércio (OMC), priorizando-se ações que também benficiem os países em desenvolvimento e menos desenvolvidos (Nações Unidas, 2017). 

Em diversas metas percebe-se enorme preocupação com os pequenos estados insulares em desenvolvimento e países menos desenvolvidos. Isso porque, no tratado da Unclos, esses países já estão como público prioritário, a fim de garantirem sua soberania sobre suas áreas de zona econômica exclusiva (ZEE) e mar territorial. 

Em virtude disso, até 2030, esses estados poderão aumentar os benefícios econômicos gerados a partir do uso sustentável dos recursos marinhos, inclusive pela gestão sustentável da pesca, pela aquicultura e pelo turismo. Para isso, haverá investimento mundial no aumento do conhecimento científico, da capacidade de pesquisa e transferência de tecnologia marinha, a fim de melhorar a saúde oceânica e aumentar o contributo da biodiversidade marinha para o desenvolvimento desses países. E, por fim, espera-se melhorar a conservação e o uso sustentável dos oceanos e seus recursos por meio da implementação de fato do direito internacional, conforme refletido na declaração final da Rio+20: O futuro que queremos (Nações Unidas, 2012). 

Dados e fatos importantes sobre o ODS 14 no Brasil O Brasil possui zona costeira com mais de 500 mil km2 , que abriga 19 metrópoles brasileiras onde vivem 45,7 milhões de pessoas (24% da população do País) (IBGE, 2017). Essa mesma concentração urbana, que impõe pressão sobre os recursos naturais costeiros, é intercalada com áreas de baixa densidade demográfica, habitadas por populações de pescadores e povos tradicionais com intrínseca relação com a biodiversidade marinha (Brasil, 2017). 

Por isso, e visando ao potencial econômico dos mares e oceanos, o País tem investido em compromissos ratificados em convenções e tratados internacionais para garantir sua soberania sobre sua ZEE, elaborando e desenvolvendo políticas nacionais voltadas à sustentabilidade de mares e oceanos. Em primeiro lugar, o Brasil empenhou-se em participar das discussões acerca do Direito do Mar, elaborando uma proposta de demarcação para os limites 16 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 14 oceânicos brasileiros que protegesse nossos interesses com relação ao território denominado Amazônia Azul, pela escala e diversidade de suas riquezas, cujo interesse cresceu a partir da descoberta do Pré-Sal (Lima, 2015). Desde então, além de sua participação ativa na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, o Brasil também se tornou signatário das convenções sobre diversidade biológica e mudança do clima (Machado Filho, 2017). 

Posteriormente, outras ações vieram na forma de programas e projetos. O programa Oceanos, Zona Costeira e Antártica tem como objetivos principais a formação de recursos humanos, o desenvolvimento de pesquisas científicas para preservação ambiental e para conhecer o potencial mineral e biológico de áreas internacionais e da plataforma continental brasileira, além de fomentar a Política Nacional para os Recursos do Mar (PNRM) que prevê o uso compartilhado do ambiente marinho e a gestão da zona costeira, incluindo seus direitos de exploração (Brasil, 2017). 

Outro projeto de gestão integrada da orla marítima, Projeto Orla, é responsável pelo ordenamento do litoral brasileiro (Figura 2), cuja meta é diagnosticar 100% da zona costeira até 2019. A partir das informações levantadas, será possível auxiliar os municípios costeiros no uso e ocupação sustentáveis do espaço terrestre, prevenindo processos erosivos, contaminação de corpos d’água e conflitos sociais entre pesca, turismo, aquicultura e ocupação espacial (Brasil, 2017). Em 2016, foi implementado o Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA) para promover a adaptação do País aos efeitos do clima nas zonas costeiras e marinhas. Também visando à conservação das zonas costeiras, além do fomento das unidades federais de conservação, o governo planeja a consolidação de outras 11 unidades e expansão das áreas protegidas para 5% do território brasileiro até 2019 (Brasil, 2017). Com relação à pesca e aquicultura, além dos financiamentos por meio das agências de pesquisa, do Plano de Desenvolvimento da Aquicultura Brasileira (PDA) – com mais de 500 milhões de recursos para investimento na área –, nos últimos anos, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e seus parceiros (universidades, institutos, organizações não governamentais – ONGs, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICMBio) fomentaram a elaboração de planos de gestão e manejo de recursos pesqueiros para espécies relevantes e com risco de sobrepesca (lagostas, sardinhas, siris, caranguejos, camarões, tainhas, elasmobrânquios, Vida na água 17 cavalos-marinhos, meros, robalos, garoupas, etc.) com destaque para normativas para a pesca e o monitoramento por satélite das embarcações, com o objetivo de reduzir a vulnerabilidade da fauna marinha (Machado Filho, 2017). 

A inserção da Embrapa nas metas do ODS 14 A participação da Embrapa em pesquisas relacionadas aos recursos pesqueiros marinhos começou com a atuação da Embrapa Agroindústria de Alimentos, localizada no Rio de Janeiro, no desenvolvimento de trabalhos com a pesca há mais de 27 anos (Rebelatto Junior et  al., 2014). Segundo um levantamento da atuação da Embrapa em pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia nas áreas de pesca e aquicultura, existem apenas quatro Unidades da Empresa que trabalham com ecossistemas marinhos e estuarinos: Embrapa Amapá, AP, Embrapa Agroindústria de Alimentos, RJ, Embrapa Meio-Norte, PI, e Embrapa Tabuleiros Costeiros, SE (Rebelatto Junior et al., 2013). Desde 2002, a Embrapa Meio-Norte realiza trabalhos de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologias voltados à conservação e ao manejo de recursos pesqueiros estuarinos e marinhos. 


Figura 2. Detalhe da ocupação do litoral de Santa Catarina. Foto: Luiz Eduardo Lima de Freitas 

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 14 Costeiros articulou-se com uma rede de pesquisa com mais de 20  instituições, que formalizou sua participação nas discussões relacionadas à piscicultura marinha. Também existem diversas ações individuais e projetos locais desenvolvidos ou em fase de execução em outras Unidades espalhadas pelo Brasil, principalmente na pesca, que participam ativamente de projetos para o desenvolvimento da atividade de forma sustentável, como também projetos ligados à biotecnologia marinha, recursos genéticos e processamento de alimentos. 

Esses projetos relacionados aos recursos pesqueiros marinhos e estuarinos serão descritos nos capítulos a seguir. Assim, fica claro que a Embrapa já participa de ações que coincidem com as metas do ODS 14. 

Prova disso, é que a temática está inserida em diversas metas de seu Plano Diretor (PDE), que estabelece seu mapa estratégico para o período de 2014 a 2034 (Embrapa, 2014). Dentre elas, podemos citar: 

1) o desenvolvimento de novas ciências, pois a demanda por conhecimento e tecnologias nessa área é gigantesca; 

2) as pesquisas relacionadas aos recursos naturais e mudanças climáticas: totalmente alinhadas às metas previstas pela ONU; 

3) o desenvolvimento de sistemas de produção: desenvolver possibilidades de produção de alimentos de qualidade nos mares, evitando-se a superexploração dos recursos marinhos ou mesmo das fontes de água doce; e 

4) geração de tecnologias que garantam a segurança dos alimentos, nutrição e saúde: pela importância da qualidade do pescado marinho na exportação, na alimentação humana e na subsistência de inúmeras famílias brasileiras. 


Autores:

Fabíola Helena dos Santos Fogaça 

Angela Aparecida Lemos Furtado 

Carlos Alberto da Silva 

Marcos Tavares-Dias 

Alexandre Kemenes 

Eric Arthur Bastos Routledge


Referências Bibliográficas:

BEIRÃO, A. P.; PEREIRA, A. C. A. (Org.). Reflexões sobre a Convenção do Direito do Mar. Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 2014. 589 p. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2017. 

BRASIL. Secretaria de Governo da Presidência da República. Relatório nacional voluntário sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Brasil 2017. Brasília, DF, 2017. 76 p. Disponível em: . Acesso em: 7 fev. 2017. 

EMBRAPA. Visão 2014-2034: o futuro do desenvolvimento tecnológico da agricultura brasileira. Brasília, DF, 2014. 194 p. Disponível em: . Acesso em: 1º dez. 2017. IBGE. Pesquisa agrícola municipal. Disponível em: . Acesso em: 2 dez. 2017. 

LIMA, S. E. M. Direito do mar: notas sobre uma narrativa de valores. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, v. 110, p. 493-512, 2015. Vida na água 19 

MACHADO FILHO, H. (Org.). Documentos temáticos: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 1 · 2 · 3 · 5 · 9 · 14. Brasília, DF: ONUBR, 2017. 107 p. Disponível em: . Acesso em: 21 nov. 2017. 

NAÇÕES UNIDAS. Goal 14: conserve and sustainably use the oceans, seas and marine resources. Disponível em: . Acesso em: 21 nov. 2017. 

NAÇÕES UNIDAS. O Futuro que queremos. Rio de Janeiro: ONU, 2012. 21 p. Apresentado durante a Rio+20. Disponível em: . Acesso em: 1º dez. 2017. 

NAÇÕES UNIDAS. The First global integrated marine Assessment. New York: ONU, 2016. Disponível em: . Acesso em: 10 dez. 2017. 

REBELATTO JUNIOR, I. A.; FLORES, R. M. V.; LIMA, A. F.; PRYSTHON, A.; ROSA, D. K.; PINHO, M. S. de; SOARES, S. S. Diagnóstico estratégico de instituições ofertantes e demandantes de tecnologias em pesca e aquicultura – Projeto Aquapesquisa. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA, 18., 2013, Paulo Afonso. [Anais...]. Paulo Afonso: Ed. Uneb, 2013. Disponível em: . Acesso em: 20 nov. 2017. 

REBELATTO JUNIOR, I. A.; FLORES, R. M. V.; LIMA, A. F.; SILVA, A. P.; ROSA, D. K.; PINHO, M. S.; SOARES, S. S. Strategic diagnosis of institutions suppliers and demanders of technology in fisheries and aquaculture. Brazilian Journal of Aquatic Science and Technology, v. 18, n. 2, p. NB5-NB8, 2014. Disponível em: . Acesso em: 11 dez. 2017. 

RIPPLE, W. J.; WOLF, C.; NEWSOME, T. M.; GALETTI, M.; ALAMGIR, M.; CRIST, E.; MAHMOUD, M. I.; LAURENCE, W. F. World scientists’ warning to humanity: a second notice. BioScience, v. 67, n. 12, p. 1026-1028, 2017. Disponível em: . Acesso em: 8 dez. 2017

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Smart Sea >> Certificações de Sustentabilidade Ajudam a Economia do Mar.

Referência em sustentabilidade no mercado náutico brasileiro, Marina Itajaí conquista pela terceira vez Bandeira Azul e recebe Selo Social 2023.

Viagem de benchmark para empresarios entenderem a Certificação Bandeira Azul, 2016. 

A 14ª edição do programa Selo Social certificou 98 empresas na noite de sexta-feira (29). A Marina Itajaí foi a empresa náutica de destaque já que conquistou 6 selos ODS. A certificação é concedida a empresas privadas e públicas pelo município de Itajaí (SC) que realizam práticas que integram os  Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e suas metas. Os ODS foram adotados pelos países-membros das Nações Unidas como um apelo universal para proteger o planeta e garantir que até 2030 todas as pessoas desfrutem de paz e prosperidade.

“Trata-se de mais um reconhecimento dos investimentos em ações internas e externas focadas em sustentabilidade, seis anos de trabalho com atividades e implementações constantes. Além disso, nosso foco é avançar cada vez mais nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU. Em termos de ações na marina, alguns exemplos é o sistema de coleta de água da chuva, geração de energia limpa com a instalação de painéis solares, gerenciamento de resíduos, ponto de carregamento de carros elétricos, monitoramento da qualidade da água, exclusão do uso de copos e embalagens plásticas, programa “no paper” que estamos implementando e apoio a inúmeros eventos do gênero. Além disso, somos a única marina com a certificação internacional ISO 14.001, relacionado também ao sistema de gestão ambiental” explica Carlos Gayoso de Oliveira, diretor da Marina Itajaí. 


Marina Itajaí conquista pela terceira vez consecutiva certificação internacional Bandeira Azul  

O complexo náutico catarinense também confirmou a certificação Bandeira Azul para a temporada 2023/2024, pela terceira vez consecutiva. O prêmio internacional comprova que no local há turismo sustentável, educação e gestão ambiental. A cerimônia de entrega da bandeira ocorrerá no final deste mês. 

O programa é credenciado pela ONU (Organização das Nações Unidas) e pela Unesco para promover a mudança de comportamento através da educação e informação ambiental.

Apoio a eventos de preservação ambiental

Desde o início das suas operações, a Marina Itajaí também foi importante aliada de eventos e projetos relacionados à sustentabilidade. É o caso do “Juntos Pelo Rio”, evento organizado pelo Município de Itajaí, por meio do Porto e do Semasa, que somente na última edição retirou cerca de nove toneladas de resíduos do Rio Itajaí-Açu. Um exemplo de ação importante capaz de sensibilizar a população sobre a preservação do meio ambiente, a valorização da água e a consciência para não jogar lixo nos rios, nas ruas ou calçadas. 

O complexo náutico também é o único do Sul do país que oferece o óleo Diesel Verana, combustível com um dos menores níveis de emissão de poluentes do segmento marítimo. Além disso, a Marina ainda possui pontos de carregamento de carros elétricos.


Fonte: https://www.marinaitajai.com/referencia-em-sustentabilidade-no-mercado-nautico-brasileiro-marina-itajai-conquista-pela-terceira-vez-bandeira-azul-e-recebe-selo-social-2023/

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

SMART SEA >> Temporada Bandeira Azul 2023/2024.

AÇÕES CERTEIRAS PARA RESULTADOS CONSISTENTES NO MERCADO. 


                                             Encontro Nacional da Bandeira Azul, maio de 2015

                                                        Foto: Adilson Pacheco, Regata News.

Em 2015, a EBC OSN CONSULTORIA, que trabalha o programa "Discover Brazil", fazia em Santa Catarina o "Encontro Nacional da Bandeira Azul", uma parceria com a ONG IAR, responsável e presentante da FEE no Brasil e América Latina. Nascia a estratégia SMART SEA com foco na conservação da orlas de Santa Catarina. Hoje a temporada que vai se iniciar, o estado passa a ter 15 das 31 praias certificadas. 


Na última semana de Setembro de 2022, 31 praias brasileiras receberam a certificação de "Bandeira Azul". O selo faz parte de um programa internacional de avaliação ambiental de praias elaborado pela ONG dinamarquesa Foundation For Environmental Education (FEE).

Entre os critérios avaliados para a escolha das praias, estão: educação e informação ambiental; qualidade da água; gestão ambiental; avaliação dos riscos, prestação de primeiros socorros, entre outros.

Além dos critérios pré-estabelecidos, as praias também devem ser acessíveis a todos, sem exclusão por idade, raça, gênero, dentre outras características —de forma gratuita, a menos que seja parte de SNUC (Unidade de Conservação catalogada no Sistema Nacional de Unidades de Conservação).

Também é obrigatório que haja um ponto de coleta para análise de qualidade da água, fronteiras reconhecidas e, preferencialmente, visitação constante. O selo Bandeira Azul busca classificar e conscientizar a população sobre os locais costeiros com melhor preservação e mais indicados a visitas.

Ao todo, seis estados brasileiros são contemplados na lista. Santa Catarina foi o mais destacado na temporada 2023-24, com 15 praias: 

  1. Praia Esteleiro, Balneário Camboriú
  2. Praia Estaleirinho, Balneário Camboriú
  3. Praia de Taquras, Balneário Camboriú
  4. Praia de Piçarras, Balneário Piçarras
  5. Praia da Ponta do Jacques, Balneário Piçarras
  6. Praia da Conceição, Bombinhas
  7. Praia de Quatro Ilhas, Bombinhas
  8. Praia de Mariscal, Bombinhas
  9. Lagoa do Peri, Florianópolis
  10. Praia Grande, Governador Celso Ramos
  11. Prainha de Itá, Itá (a primeira do Brasil em águas do interior, um exemplo a ser seguido). 
  12. Praia do Ervino, São Francisco do Sul
  13. Praia do Forte, São Francisco do Sul
  14. Praia da Saudade, São Francisco do Sul, e a queridinha da cidade, a
  15. Praia Grande, São Francisco do Sul. 

O rank Bandeira Azul da Temporada 2023/2024 ficou assim:  

Santa Catarina - 15 Praias 

Rio de Janeiro - 09 Praias; 

Bahia - 4 Praias 

São Paulo - 1 Praia 

Alagoas - 1 Praia; e 

Ceará - 1 Praia. 


Por meio de ações certeiras, mesmo que demora um pouco mais, boas sementes são plantadas e os bons exemplos copiados. 

Suce$$o !!

Álvaro ORNELAS

Head de Projetos | Discover Brazil 


Fonte: UOL, Outubro de 2023.  

Referencia Bibliográfica: 

Website IAR.org.br (nacional)  

Website BlueFlag.org (internacional)