Polo Náutico em Tijucas deve beneficiar toda a Grande Florianópolis
Grupo de Trabalho
de Turismo Náutico do Governo do Estado aposta em criação de novo núcleo de
serviços e transportes marítimos, aproveitando as últimas áreas livres perto do
mar na região
MARCOS HOROSTECKI, FLORIANÓPOLIS25/08/2016 ÀS 11H13
A cidade de Tijucas vai voltar a viver do mar. E
não dependerá da abertura ou não da boca da barra do rio Tijucas, apontada como
um dos fatores responsáveis por sufocar esse setor econômico no passado. A
chegada do TMC (Tijucas Marine Center), primeiro empreendimento do Polo
Nautico, amplia as possibilidades de desenvolvimento, não somente da cidade,
mas de toda a Santa Catarina, contribuindo inclusive com a possibilidade de a
Grande Florianópolis voltar a atrair desembarques em transatlânticos.
Quem garante é o consultor voluntário que coordena
o Grupo de Trabalho de Turismo Náutico da Secretaria de Estado de Turismo
Cultura e Esporte, Álvaro ORNELAS, responsável por orientar o município desde
2013 na construção da alternativa do Polo Náutico. De acordo com ele, a
implantação do TCM e a chegada de outros empreendimentos voltados ao mar deve
pressionar os governos estadual e federal em favor do projeto da desobstrução
da foz do rio Tijucas.
O investimento direto no TMC deve ultrapassar a
casa dos R$ 70 milhões e não há nenhuma expectativa de que o empreendimento
seja afetado ou atrasado pela crise econômica. Ornelas explica que o segmento
da construção e manutenção de embarcações acima de 40 pés não estão sendo
afetados pela redução do ritmo da economia. E a expectativa é de que o setor de
embarcações de menor porte apresente recuperação nos próximos meses.
Entrevista com Álvaro Ornelas, consultor da OSN
CONSULTORIA que voluntariamente COORDENA O GTT NAUTICO SC
ORNELAS afirma que setor náutico de grandes
embarcações não sofreu impacto com a crise, e as empresas poderia estar
exportando barcos se tivessem mais design, gestão internacional e certificações
de qualidade para vendas na Europa e Estados Unidos.
Foto: Marcos Horostecki/ND
Como o Grupo de Trabalho do Turismo Náutico está
contribuindo com o Polo Náutico de Tijucas?
– Atualmente são várias frentes de trabalho para o
fortalecimento da economia do mar de Santa Catarina, tendo Tijucas como um dos
grandes potenciais reais de mercado para auxiliar a indústria, comércio,
serviços e turismo náutico. O Grupo de Trabalho Náutico, que é um órgão da
Secretaria de Estado de Turismo, está atuando no desenvolvimento do turismo e
serviços relacionados à economia do mar, em conjunto com a Fecomércio, FIESC, e
principalmente com o apoio do SEBRAE que viabiliza ações de benchmarking e
auxiliar na organização do setor.
– Porque você acha que isso demorou tanto para
acontecer em Tijucas?
Dentro do GT, Tijucas é o case que mais acelerou
seu processo de desenvolvimento em toda a Santa Catarina.
-Mas esse potencial é de conhecimento geral bem
antes da criação do GT…
Bem, mas foi só em 2013 que o município começou a
atuar em conjunto com o governo do Estado nessa questão e começamos a
vislumbrar o potencial de Tijucas, trabalhando de forma cooperada. Eu diria que
o projeto acelerou muito desde que fomos chamados. Foi muito rápido, em menos
de quatro anos houve uma mudança de comportamento e interesse na exploração do
grande potencial que tem Tijucas nessa área.
-Pela sua experiência, o que vai acontecer primeiro
no Polo Náutico?
O que acontece primeiro é a instalação do Tijucas
Marine Center, que é um investimento 100% privado e que já começou a atrair
empresas para Santa Catarina. Empresas do Rio de Janeiro, empresas de São Paulo
que estão interessadas em um espaço com uma estrutura adequada para recebe-los
e que a área localizada de frente para o mar tem plenas condições de oferecer.
–E qual seria o potencial do Polo Náutico?
Acredito que Tijucas, nos próximos 20 anos, vai ser
uma cidade que vai viver da economia do mar. Vai voltar a viver da economia do
mar, porque tem espaço, está geograficamente posicionada entre mercados
consumidores, como São Paulo, Porto Alegre e Buenos Aires e é também uma cidade
em que os terrenos disponíveis são acessíveis do ponto de vista financeiro,
comparado à região metropolitana da Capital e a região do Vale do Itajaí.
Então, o potencial das áreas existentes aqui chama a atenção de todo o mercado do
mar.
-O problema da boca da barra não prejudica esses
investimentos?
Esse problema pode se alimentar e ganhar realmente
um valor de mercado, para sensibilizar autoridades para a necessidade de
investimento que ele exige. Porque até 2013, fazer os molhes na boca da barra
era a única solução, o que é uma inverdade. O potencial da cidade é tão grande,
que existe outras alternativas, que já são realidade e que não dependem da
solução do problema para atrair um investimento da ordem, por exemplo, de R$ 70
milhões, que é o que vai garantir o Tijucas Marine Center. A estratégia da
cidade para o mar é mais importante que a solução da boca da barra.
-E essa estratégia está consolidada?
Sim, porque a cidade procurou o GT Náutico para
isso, em 2013. Em 2014 aprovou uma lei de incentivo municipal para atrair
empresas. Em 2015 organizou a participação da cidade numa feira internacional.
Foi até a Itália mostrar para os italianos que tem o potencial e 2016 tem um
investimento privado confirmado que se chama Tijucas Marine Center. Cada ano um
passo certo para um resultado consistente. Esse é o principal ganho. A boca da
barra continua sendo um problema, mas com esses investimentos a solução dele
fica bem mais próxima.
-Sabemos que o mercado náutico é um mercado de
capital intensivo, que precisa de grande circulação de dinheiro. Essa situação
do País, com a crise, o que ela impacta nesse projeto?
Na náutica, as embarcações de 40 pés em diante
nunca sofreram com crise alguma no Brasil. Nunca vão sofrer. Assim como todo o
mercado de alto luxo e alto padrão. Nenhuma das marcas de carros, por exemplo,
como a Land Rover, sofreu com a crise. Esse segmento é fiel e tem clientes no
Brasil de alto padrão que vão continuar comprando. O Brasil não faliu, o Brasil
está em crise, é diferente. Claro que tudo abaixo disso não está acontecendo.
Aquelas embarcações menores, de 30 pés, 20 pés, as de lazer, essas estão em
situação complicada, porque o cidadão não vai deixar de financiar um carro novo
para comprar um barco, porque não está sobrando dinheiro. Nós temos um segmento
em Santa Catarina que são os estaleiros que produzem as embarcações de lazer,
para a pesca e para mergulho, que custam o valor de um carro. Esse segmento sim
foi afetado, mas nós acreditamos que logo sairá da crise também.
-Como fica a pesca nesse contexto, já que Tijucas
tem uma relação muito forte com ela?
Eu vejo nesse primeiro momento que o potencial de
Tijucas inclui as pessoas que residem na cidade e que estão envolvidas no
setor, inclusive quem já está no mercado da pesca. Essa cidade respira náutica.
Ela já foi náutica no passado e por alguma estratégia do passado ela deixou de
ser. De cada dez tijuquenses, oito já estiveram dentro do mar ou conhecem as
condições do mar. Isso é matéria prima. Não tem lugar nenhum no planeta que
possua esse tipo de mão de obra. O que precisamos é capacita-los, para que eles
estejam adaptados às novas tecnologias. Por isso a gente acredita que, talvez
no ano que vem já venham os primeiros cursos, em parceria entre o Senai e o
governo do Estado.
-Esse núcleo pode vir a ajudar também para que a
região se beneficie de alguma forma pelo transporte marítimo?
O Polo Náutico de Tijucas tem tudo para contribuir
com isso. Estamos trabalhando inclusive no processo de atrair cruzeiros para a
Baía de Tijucas e para a Baia Norte e Baia Sul da região metropolitana. Mas
tudo isso está alicerçado em uma carta náutica. E a última de Tijucas é de
1957. Isso custa R$ 800 mil e demora 60 dias para ficar pronto. É como se fosse
fazer um asfalto e hoje não temos isso. E isso impacta no transporte
aquaviário, importa no setor náutico, na maricultura e na segurança de quem
navega. Perdemos muito com isso e estamos trabalhando para que isso aconteça e,
no futuro, por exemplo, o polo náutico de Tijucas possa ser usado não só para
desembarque de cruzeiros, mas para a manutenção de todas as embarcações que
circulam pela região.
Cliente: Secretaria de Turismo de Santa Catarina | GTT NAUTICO SC
Evento: Entrevista N Data: 25.08.2016
Fonte: https://ndmais.com.br/noticias/polo-nautico-em-tijucas-deve-beneficiar-toda-a-grande-florianopolis/
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