quarta-feira, 10 de junho de 2020

Entrevista com o CEO da Azimut Brasil.

Brasil e América Latina, os melhores 
mercados para a náutica global. 


"O mercado náutico de Santa Catarina é um 
dos melhores do mundo"
Kátia Borges

Formado em administração de empresas na Itália e vindo de experiências no setor automotivo, o italiano Davide Breviglieri, 49, mora há 15 no Brasil e atua há cinco no mercado náutico, como CEO da Azimut Yachts, braço brasileiro do poderoso grupo italiano Azimut Benetti, maior fabricante de iates de alto luxo do planeta. Localizado na cidade de Itajaí, em Santa Catarina, o estaleiro da empresa  já produziu ao menos um grande sucesso nacional,   que  está sendo exportado para os Estados Unidos e países da América do Sul, o Azimut 42, que custa cerca de 700 mil dólares - o modelo de partida - e  tem como diferencial uma área para  churrasco no mar, instalada  na popa, que abriga frigobar, máquina de gelo e chopeira. Na contramão da crise, a Azimut teve um crescimento acima do esperado no ano passado, com faturamento de mais de 700 milhões de euros. O executivo esteve recentemente em Salvador para participar da  primeira edição do Aperitivo Azimut, "tentativa de aproximação maior com os clientes da Bahia", considerado um estado estratégico para a empresa, por conta de seu potencial marítimo. Conversamos com Davide na sede  da Marina Yachts,  representante oficial da marca no estado. Entre outras coisas, o executivo explica as  razões que levam o mercado de alto luxo a manter-se alheio à crise e qual o perfil dos consumidores "diferenciados".
O senhor já disse que a Bahia é  estratégica para a Azimut. Em termos de potencial náutico, como a situaria em relação a outros estados do país?       
Por sua situação territorial, a Bahia é um estado que  tem  um potencial náutico imenso e sempre foi  foco de interesse para nós. Mas apenas agora, a partir do fortalecimento da parceria com a Bahia Marina, conseguimos consolidar  um projeto de relevo. Infelizmente,  o mercado náutico não tem hoje   estatísticas oficiais que permitam situar a Bahia em relação a outros estados. Mas nossas pesquisas indicam   uma potencialidade de compra de  10% dos iates de luxo que pertencem à família Azimut. E este é um potencial que, do nosso ponto de vista, deverá crescer ainda mais expressivamente.

Sem estatísticas oficiais, como o interesse dos baianos pelos iates de alto luxo da  Azimut pode ser traduzido?           
Nossa aposta  na Bahia é grande e as perspectivas são bastante positivas. Apostamos em  um crescimento acima de dois dígitos por ano, o que, para nós, seria natural, dentro do projeto que estamos consolidando no país. Começamos a fabricação de barcos em 2011 e, hoje, já fizemos 35 embarcações. Então, dentro das nossas expectativas, da Bahia, esperamos entre 10% e 15% ao ano. 

Quais as novidades que a Azimut  traz ao mercado náutico do estado?          
Bom, somos o primeiro grupo no mundo em termos de proposta náutica de altíssimo nível e de altíssimo luxo. Então, na Bahia, a proposta é a mesma do nosso projeto no Brasil: oferecer uma experiência náutica que não se compara a nenhuma outra no país ou no mundo.

Está prevista a realização de um   curso específico para formação de tripulantes de embarcações de esporte e lazer em Salvador. Em sua opinião, há uma lacuna específica, nesse sentido, em relação ao Nordeste ou à Bahia?
Não, na verdade, há uma lacuna geral.  E a qualificação é um dos aspectos mais importantes do mercado náutico de luxo hoje no país. No ano passado, fizemos uma primeira edição, e o sucesso foi imenso. O que acontece é que o desenvolvimento do mundo náutico brasileiro é muito recente -  cerca de 15 anos - e os barcos têm hoje a bordo uma tecnologia extremamente sofisticada e que precisa ser utilizada com propriedade. Além disso, houve um crescimento no tamanho e na complexidade das embarcações, e a maioria dos marinheiros, embora experiente e com uma longa história no mercado e no mar, nem sempre acompanhou essas mudanças.

A  Azimut Yachts do Brasil teve um crescimento de mais de 15% no ano passado. Como a empresa conseguiu se manter ilesa em meio à crise econômica mundial?
Acredito que há dois cenários hoje que podemos considerar como elementos de análise. Um deles é o mercado interno de luxo. Este é, com certeza, um mercado diferenciado. Sentimos, logicamente, o momento que atravessa o país, mas o sentimos  de uma forma um pouco diferente, porque nossos clientes estão fora da média. Outro aspecto, o segundo aspecto, é que nosso projeto se confirmou de modo tão sólido, tão consistente,  que estamos agora preenchendo espaços que outros estaleiros internacionais não conseguiram manter. Temos uma vantagem gigantesca sobre eles, que é vender um produto com qualidade e características internacionais, mas com preços mais competitivos, pois o  custeio e as condições são made in Brasil. Alguns estaleiros concorrentes não tiveram a mesma sorte. Todas essas condições criaram um ambiente extremamente favorável para nós. E há ainda a exportação de barcos fabricados em nosso estaleiro, em Santa Catarina, que está sendo ampliada. Começamos pela América Latina e, no ano passado, exportamos o primeiro barco  para os Estados Unidos, que é considerado um mercado mais maduro, mais resistente a embarcações externas, mas que também é o maior mercado náutico do planeta, aquele que mais consome iates de luxo. Entrar nesse mercado foi  um grande desafio para nós. E estamos levando para lá o mesmo barco que produzimos e vendemos aqui.  

Qual a projeção de expansão do mercado náutico internacional  para 2016?
Como disse, o mercado náutico vai bem, apesar da crise. Especialmente os Estados Unidos e mesmo a Europa. Temos hoje apenas dois mercados na contramão dessa tendência positiva, que são os emergentes, Rússia e  China.   O que acontece, no caso específico da China, é que os chineses com alto poder aquisitivo não gostam de água. Quando decidem comprar um iate é por conta apenas do status, não por  amor ao mar. De todo modo, no ano passado, o mercado náutico mundial cresceu  entre 4% e 5%. A expectativa é de que esse ritmo seja mantido.

Quais os mercados náuticos internacionais com maior potencial hoje?         
A América Latina é, com certeza, nosso maior foco hoje.  E, pensando nesse mercado, criamos kits para o Azimut 42, que, no Brasil, são muito amados e que chamamos de "kits gourmet". Eles ficam na popa do barco e têm churrasqueira, chopeira e máquina de gelo. Mas, em termos de mercado náutico, de modo geral, eu destacaria Colômbia, Uruguai, Paraguai, México, Venezuela. Estes são países com grande vocação náutica. E mesmo a Argentina, hoje em crise,  tem uma história náutica ainda superior à do Brasil

Quem são os consumidores dos iates de alto luxo hoje no país?         
Os nossos clientes são pessoas que,  em geral,  já têm um envolvimento com o mercado náutico. Pessoas que já conhecem barco, que têm uma cultura de mar, que investem em uma cultura náutica bastante aprofundada. Não são novos-ricos, como muitos podem imaginar,  mas  pessoas que estão em evidência, que são bem-sucedidas e competentes em suas áreas e que, por conta disso, buscam um produto único, de padrão internacional. São empresários, artistas, gente que, por conhecer o mercado, busca o que há de melhor nesse mercado.

Qual o custo médio de um barco da Azimut hoje no mercado nacional?       
Hoje produzimos seis tipos de barco. Nosso portfólio de proposta econômica é em dólares, pois a maioria dos componentes usados em nossos barcos é importada. O preço de uma embarcação produzida pela Azimut  varia hoje entre 650 mil  e cinco milhões e meio de dólares. Os tamanhos também são variáveis, indo de 42 a 83 pés.

Uma característica específica do mercado brasileiro de iates de alto luxo é que os clientes têm procurado barcos com  dimensões cada vez maiores.
Sim, é verdade. A dimensão dos barcos no Brasil cresce um pouco mais do que no resto do mundo. E essa é uma lógica que talvez possa ser explicada a partir de vários elementos. Mas creio que a exigência por tamanhos cada vez maiores corresponda mesmo ao sonho dos clientes, que vem se concretizando, e isso - o tamanho do barco -  passa a ser parte de um projeto maior de lazer, que envolve a família, os amigos.

O senhor está há 15 anos no país. O que o atraiu e o fez ficar no Brasil?        
O Brasil é um desafio. Um país belíssimo e  que nos estimula, nos desafia o tempo todo. Além disso, fiquei apaixonado pelo mercado náutico  - embora ainda não tenha meu próprio barco (risos).


FONTE/Source: 
Jornal A Tarde em 07/03/2016 às 12:48. 
https://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1750863-o-mercado-nautico-e-um-dos-melhores-do-mundo

IMAGEM: Jornal A Tarde   

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